domingo, 14 de novembro de 2010

Apelos de um sovina

Tinha ido ao shopping assim, sem grandes expectativas, como quando se vai dar um passeio qualquer, sem nenhuma importância particular. Estávamos eu, minha irmã e minha tia. Eram umas cinco da tarde, e fazia um calor desgraçado. No caminho para o shopping, tivemos que ouvir quatro ou cinco reclamações da minha tia sobre o fato de que poderíamos ter ido de carro, enfrentar enormes congestionamentos, aturar as buzinas de quem não tem grandes coisas com as quais se preocupar e levar o dobro do tempo para chegar, tudo para não cansar as pernas e os pulmões sedentário.

Chegamos, fomos andando, passamos por umas lojas, o preço era absurdo. Em outras, a coisa não era tão cara assim, minha tia experimentou algumas roupas, fingiu que queria ir ao banheiro e, sorrateiramente, saiu da loja, garantindo que iria voltar imediatamente.

Infelizmente, não tivemos a mesma sorte mais tarde. Após dar uma rápida e econômica passagem numa livraria, voltamos à maratona das roupas. Nesse momento, já estava me perguntando o que eu estava fazendo ali. Depois de comprar algumas peças, minha tia se lembrou de que tinha que comprar um perfume que ela usava, urgentemente.

Chegamos à loja, mais uma vez, como quem não quer nada mais que um simples perfume. Entramos, pedimos o tal perfume. Fomos informados pela atenciosa vendedora de que, se comprássemos mais de cem reais, ganharíamos um chapéu, que lembrava o de certo apresentador australiano de um programa sobre animais. Nisso, minha tia avistou uma nécessaire numa mesa no centro da loja, e ficou sabendo que ela a ganharia, se comprasse duzentos e cinquenta reais.

_Ótimo – disse ela – duzentos e cinquenta reais e ainda levamos uma nécessaire, que linda essa promoção! – Eu pensei “Nossa, que bom, ela ficou tão irritada que está sendo até irônica! Isso significa que nós vamos embora logo, finalmente!”. – O que você tem aí para complementar o preço?

Nada melhor do que ser amado por alguém durante alguns meses e muitos contos. O difícil é ter que aturar ataques consumistas de quem não tem o que fazer quando você, querido leitor, tem, sim, muito que fazer. Digamos que nunca antes na história da minha vida foi tão ruim perceber a não-ironia na fala de alguém.

Depois disso, foram pilhas e mais pilhas de caixas de perfumes, desodorantes, xampus, cremes para a pele, para o rosto, para o nariz, para as unhas, para os cabelos, enfim, para todas as partes do corpo conhecidas e desbravadas até então. Levar ou não levar, eis a questão! O que fazer quando se tem que gastar duzentos e cinquenta reais, mas não se sabe com o que gastar, caro(a) leitor(a)? O que fazer quando as opções chegam ao nível do quase infinito, mas as utilidades para elas são estupidamente limitadas?

Uai, não é obvio, compre aquilo que for mais caro e menos inútil! E, de preferência, para o melhor cumprimento da respeitável atividade de consumo, leve o tempo mais longo que for possível. E, na hora de pagar, ouça o épico discurso da vendedora (que agora já adquire feições irritantes e enjoativas) acerca do bônus que você ganha ao comprar nas lojas daquela rede, podendo trocá-lo por chaveiros, pingentes de celular, protetores de ouvido e, ouçam só, até um incrível porta-controle-remoto!

E tudo isso por uma nécessaire estúpida. Ainda bem que não era meu dinheiro.