Chegamos, fomos andando, passamos por umas lojas, o preço era absurdo. Em outras, a coisa não era tão cara assim, minha tia experimentou algumas roupas, fingiu que queria ir ao banheiro e, sorrateiramente, saiu da loja, garantindo que iria voltar imediatamente.
Infelizmente, não tivemos a mesma sorte mais tarde. Após dar uma rápida e econômica passagem numa livraria, voltamos à maratona das roupas. Nesse momento, já estava me perguntando o que eu estava fazendo ali. Depois de comprar algumas peças, minha tia se lembrou de que tinha que comprar um perfume que ela usava, urgentemente.
Chegamos à loja, mais uma vez, como quem não quer nada mais que um simples perfume. Entramos, pedimos o tal perfume. Fomos informados pela atenciosa vendedora de que, se comprássemos mais de cem reais, ganharíamos um chapéu, que lembrava o de certo apresentador australiano de um programa sobre animais. Nisso, minha tia avistou uma nécessaire numa mesa no centro da loja, e ficou sabendo que ela a ganharia, se comprasse duzentos e cinquenta reais.
_Ótimo – disse ela – duzentos e cinquenta reais e ainda levamos uma nécessaire, que linda essa promoção! – Eu pensei “Nossa, que bom, ela ficou tão irritada que está sendo até irônica! Isso significa que nós vamos embora logo, finalmente!”. – O que você tem aí para complementar o preço?
Nada melhor do que ser amado por alguém durante alguns meses e muitos contos. O difícil é ter que aturar ataques consumistas de quem não tem o que fazer quando você, querido leitor, tem, sim, muito que fazer. Digamos que nunca antes na história da minha vida foi tão ruim perceber a não-ironia na fala de alguém.
Depois disso, foram pilhas e mais pilhas de caixas de perfumes, desodorantes, xampus, cremes para a pele, para o rosto, para o nariz, para as unhas, para os cabelos, enfim, para todas as partes do corpo conhecidas e desbravadas até então. Levar ou não levar, eis a questão! O que fazer quando se tem que gastar duzentos e cinquenta reais, mas não se sabe com o que gastar, caro(a) leitor(a)? O que fazer quando as opções chegam ao nível do quase infinito, mas as utilidades para elas são estupidamente limitadas?
Uai, não é obvio, compre aquilo que for mais caro e menos inútil! E, de preferência, para o melhor cumprimento da respeitável atividade de consumo, leve o tempo mais longo que for possível. E, na hora de pagar, ouça o épico discurso da vendedora (que agora já adquire feições irritantes e enjoativas) acerca do bônus que você ganha ao comprar nas lojas daquela rede, podendo trocá-lo por chaveiros, pingentes de celular, protetores de ouvido e, ouçam só, até um incrível porta-controle-remoto!
E tudo isso por uma nécessaire estúpida. Ainda bem que não era meu dinheiro.