quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Rebelião dos Ratos - Parte 2

           O vento batia em seu o rosto, os cabelos crescidos caíam sobre os olhos. Era noite, a lua estava meio encoberta, e um único poste de luz fosca tinha o quase impossível trabalho de iluminar toda a rua. Várias casas idênticas de dois andares, estreitas e coladas umas nas outras, preenchiam um único lado da ruazinha apertada. No lado oposto, um rio de trinta metros de largura corria sujo e insalubre. Foi até uma porta de uma das casas, praticamente indistinguível das outras, exceto pelo número 42 pintado com tinta branca na porta, de uma maneira pouco caprichosa.  Bateu, e a porta foi aberta. Lá dentro estava claro como dia. Entrou.
            Cinco ou seis pessoas estavam sentadas num semicírculo meio torto. A pessoa que abrira a porta era um homem de cabelos grisalhos, de estatura mediana, com as costas meio curvadas e crateras microscópicas nas bochechas. Usava uns óculos de aparência barata, e tinha uma expressão sombria no rosto. Cumprimentou Haroldo com um aceno de cabeça curto e apressado, e deixou-o entrar.
            O silêncio que se seguiu após a entrada de Haroldo foi rompido quando uma mulher, pequena e muito magra, com cabelos escorridos, se levantou para falar:
            _Não podemos aceitar isso por muito mais tempo. Temos que fazer algo para acabar com isso, e logo!
            _Temos que ter cuidado, Bianca. A essa altura, existem espiões por todo lado. Não podemos nos dar ao luxo de sermos todos presos de uma vez. Isso acabaria com qualquer possibilidade de sucesso... – respondeu o homem grisalho, que parecia ser o líder do pequeno grupo.
            Então era verdade, pensou Haroldo. Realmente existia uma rebelião. Não estava tudo perdido, ainda. Não sabia o que aquelas poucas pessoas ali, algumas velhas demais, pretendiam fazer contra aquela ameaça, tão grande e tão impessoal. Há oito dias a Internet não funcionava, em nenhum lugar conseguia-se sinal de celular, e as redes de televisão de todo o país haviam sido invadidas e destruídas. Jornalistas foram presos ou mortos, viagens internacionais completamente proibidas, e até as nacionais passavam por sérias restrições.  Não se conseguia contato com ninguém, dentro ou fora do país, e a comunidade internacional parecia não saber, ou não se importar, com o que estava acontecendo ali. Quem estava no comando de tudo aquilo? Ninguém se manifestava, era como se uma força imaterial, indestrutível e indetectável estivesse à frente de tamanho caos.
            O homem de cabelos grisalhos virou-se para Haroldo, e explicou:
            _Tivemos uma ideia meio louca e perigosa, mas precisamos fazer algo, e logo. Parece que a maioria das pessoas nem sabe o que está acontecendo, por incrível que pareça não perceberam todas essas mudanças dos últimos oito dias.
            _Eu tenho outra teoria. – Declarou um homem de trinta e poucos anos, com um leve ar de ironia, e se levantou para continuar. – As pessoas estão com medo. Ninguém quer se voltar contra seja-lá-quem-for que está por trás disso. Quem tentou fazer qualquer coisa nos últimos dias foi preso, torturado e morto. As pessoas sabem perfeitamente o que está acontecendo. Mas ninguém vai se arriscar a fazer qualquer coisa sozinho, porque isso facilita pra eles, o controle, sei lá... É só ver o que aconteceu com nosso amigo aqui. – disse, apontando para Haroldo, de maneira quase respeitosa - Só é preciso uma faísca, um impulso inicial, e todo mundo vai juntar coragem para se revoltar. E nós precisamos dar esse impulso, acender essa faísca.
            _Mas como vocês pretendem fazer isso? – perguntou Haroldo, curioso.
            As outras pessoas trocaram olhares misteriosos, de quem compartilha um segredo que é melhor ser mantido como está... em segredo. Mas, por fim, o homem grisalho disse, com um sussurro no limite da audição:
            _Você, Haroldo. Nós precisamos de você. Você será a nossa isca.

FIM DA PARTE 2            

Nenhum comentário: